15 de dezembro de 2010

O Natal de Manuel

André tinha acabado de montar o presépio e a árvore de Natal com a mamãe, quando a porta de sua casa se abriu de repente.  Era a titia, que vinha toda esbaforida, suada, cansada, estressada mesmo toda carregada de sacolas e mais sacolas de presentes.
__Nossa, que correria!  Natal é uma canseira! Gente caminhando e correndo por todo lado... Gente que não nos vê e quase nos atropela com tantas sacolas!  Natal é uma canseira! - repetiu ela.
Logo em seguida, chegou o titio de André.  Vinha todo contente, com um sorriso largo no rosto.
__Que bom, que bom!  A minha loja estava cheia hoje!  Todos comprando muitos presentes para o Natal! Muito dinheiro entrando na minha caixa registradora! Natal é tempo de ganhar dinheiro!
André ouviu aquilo e ficou encucado, pensativo.
"Como o Natal pode ser duas coisas diferentes?"
Como podia ser algo cansativo e bem ruim para a titia e algo bom, alegre para o titio?
Pensativo, André foi até a cozinha tomar água e encontrou a mana conversando com a melhor amiga ao telefone.

__Amiiiiga!  Que bom que está chegando o Natal!!! Vou poder usar aquele vestido mara que ganhei da mãe! Natal é dia de usar roupa nova, tá ligada?
"Pronto! Mais uma coisa..." - pensou André.
Quando o menino entrou na cozinha, a cozinheira estava atarefadíssima.  Era pia suja, louça jogada por todo o lado, panelas no fogo, forno aceso, comidas prontas espalhadas por sobre a mesa e comidas sendo feitas ainda quentinhas.  Tudo para a ceia de Natal!
__Ôche! Quanta coisa ainda tenho que fazer... Quindim, pudim, bolo... e assar o peru. Nossa! Natal é uma trabalheira!
André já não entendia mais nada: correria ou ganhar dinheiro? usar roupa nova ou trabalhar muito?  Afinal o que era o Natal?
"O Henrique deve saber. Afinal ele é o mais estudioso da minha turma." - pensou André.
E lá se foi o menino cheio de dúvidas perguntar pro colega.
__Ah, André! - disse o Henrique. - Natal é a capital do Rio Grande do Norte.
"Devia ser isso mesmo!" - pensou André. Afinal, ele já tinha visto no livro de Geografia um mapa do Brasil com algumas capitais.
O menino estava se dando por satisfeito quando chegou Tião, o filho do porteiro do prédio, e embananou tudo.
__Capaz, André! Natal é um velhinho muito legal que mora, quer dizer morava lá no meu bairro.  Ele ajudava todo mundo... coitadinho, morreu há umas semanas atrás...

"Alguma coisa está errada" - pensou André - "Natal não pode ser uma cidade, capital de um estado brasileiro e um velhinho legal... tudo ao mesmo tempo não! Ou Natal é uma coisa ou Natal é outra!"
E estava pensando nisso quando encontrou a vovó, carregada de presentes.  Deu um beijinho nela e perguntou:
__Vovó! Você pode me dizer o que é o Natal?
__André... Natal é dia de ganhar muitos presentes!  Mas precisa ser bonzinho pra merecê-los!
Isso André já tinha ouvido falar.  Estava mais tranquilo, já podia voltar para casa.  Isso ele sabia: Natal era dia de ganhar presentes.  E como ele gostava de ganhar presentes!
Mas a cabeça dele ficou todas confusa quando o papai chegou em casa naquela noite.  Tirando a camisa e jogando os sapatos pela sala, papai sentou no sofá, suspirou bem fundo, sorriu e disse:
__Que bom! Feriado! Amanhã não preciso trabalhar! Natal é tempo de descanso!
Naquela noite, André não dormiu.
Que era o Natal?
Correria? Dinheiro?
Roupa nova?  Muita comilança?
Uma cidade, capital de um estado brasileiro? Um velhinho bonzinho?
Muitos presentes?  Descanso e folga?
Com aquela montanha de dúvidas, André pediu ajuda para seu melhor amigo, Manoel.  Ele estudava na mesma turma do menino.  Manuel olhou sorrindo para André e respondeu:
__O que é o Natal?!  Depende, André... Pra quem é guloso, o Natal é comilança sem fim! Pra quem é vaidoso, o Natal é usar roupas bonitas e novas...
__Ah... entendi!  Pra quem gosta muito de presentes, Natal é ganhar muitos, muitos, muitos pacotes!  Pra quem é interesseiro, Natal é muito dinheiro!  Pra quem trabalha demais, Natal é descanso!
__Isso aí, cara! E, pra você, André, o que é o Natal?
__Pra mim é um dia de se reunir com a família, de abraçar os amigos... de ficar com quem a gente gosta...
__Está certo, é isso mesmo... Mas o Natal tem algumas regras...
__Ah, eu sei! A gente tem que ser bonzinho durante o ano!
__Não! Não tem que ser bonzinho.  A gente tem que ser é BOM!  E durante o tempo inteiro!
__Bom, Manuel?  Mas não é a mesma coisa?
__Não.  Ser bom é mais.  Ser bom é ajudar quem precisa, é respeitar papai, mamãe, vovô, vovó.  É não maltratar os coleguinhas; é dividir com eles os brinquedos.  É cuidar dos animais.
André foi pensando no que Manuel tinha dito.
Quando entrou em casa, deu de cara com o presépio.
Era isso mesmo!  A resposta estava ali. Natal é o nascimento de um menino especial.  Especial como seu melhor amigo Manuel.  O Menino Jesus, que veio ao mundo ensinar como ser bom mesmo, bom de verdade.
Então, André conseguiu entender o verdadeiro significado dessa festa: o aniversário do nosso amigão, o Menino Jesus!







Ana Maria Machado

Editora Global

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