29 de agosto de 2011

O gigante egoísta


     No tempo em que ainda havia gigantes morando na Terra, existia um lindo jardim onde sempre havia um lindo sol, amarelinho e quentinho.  No chão, crescia a grama mais verdinha do mundo, cobrindo o pátio como se fosse um tapete.  Nos canteiros, havia flores de todas as cores, todas estreladas.  E nas árvores havia as frutas mais docinhas.
      No fundo do jardim, havia uma casa gigantesca onde morava o gigante dono desse jardim. Toda tarde, depois da aula, as crianças passavam no jardim do gigante e brincavam muito até anoitecer.  Era pega-pega, era esconde-esconde, era ciranda-cirandinha... uma diversão só! Um dia, o gigante voltou.  Ele tinha viajado para visitar seu compadre, o Ogro, que morava lá longe, na Cornualha.  A viagem tinha durado só sete anos porque os dois tinham pouca conversa.  Depois de sete anos, o assunto acabou e o gigante resolveu voltar.
       Quando ele viu a criançada brincando no jardim, ficou muito bravo e já foi gritando:
      __Não quero ninguém aqui no meu jardim!  Ele é MEU, TODO meu, MUITO meu, SÓ meu!
        As crianças, assustadas, foram embora correndo e o gigante ergueu um muro enorme.  Tão grande que nem o gigante podia pular.  E, assim, o gigante ficou com o jardim só para si.
        
         __Não temos mais lugar para brincar! - diziam as crianças - A rua tem muito movimento e é muito cheia de pedras!
__Em casa não tem lugar!  Não dá para correr, jogar bola, nem brincar de pega-pega.
 __Eu gostava tanto do jardim do gigante! - dizia um.
 __Que saudade de lá! - dizia outro, fazendo beiço.
Enquanto isso, o tempo foi passando e passando.  A primavera em todos os jardins da cidade foi chegando.  Em todos mesmo, menos em um: o jardim do gigante.
Que coisa esquisita!  Todos os canteiros estavam cheios de flores de todas as cores... Só no jardim do gigante o inverno continuava.  A neve, o gelo, o granizo e o vento eram os únicos que brincavam entre as árvores.
No jardim do gigante, a luz do sol tinha se apagado.  As árvores ficaram carecas, as flores murcharam e a grama - tão linda - morreu.
__Como eu queria meu jardim lindo novamente! - falava sozinho o gigante.
Uma manhã, o gigante foi acordado por um canto que há muito não ouvia.  "É um pássaro", pensou ele, "os pássaros voltaram!!!"
Era verdade!  Um pássaro colorido, lindo, lindo estava pousado numa árvores cheia de flores e frutos e folhas.  A primavera finalmente tinha voltado!
E as crianças também!  Elas tinham feito um buraco no muro e tinham voltado para o seu jardim favorito!
Quando o gigante colocou o pé para fora da porta, as crianças correram com muito medo.
__Calma, crianças!  Voltem! E brinquem quanto quiserem!  Todas as tardes, de todos os dias, de todos os anos! Foi por vocês que a primavera voltou ao meu jardim!
E o gigante saiu brincar junto com os meninos e as meninas.
Ele notou que num canto do jardim, bem perto do muro, apenas um menino não brincava.  Era um menino franzino, pequenino, que tentava subir na árvore mais alta do jardim.  Mas ele não conseguia, mesmo que a árvore baixasse os seus galhos para o menino subir.
O gigante foi lá e ajudou o menininho.  A criança ficou tão feliz que deu um abraço bem apertado no gigante.  Era o primeiro que ele recebia em toda a sua vida.
Depois daquele dia, a primavera nunca mais abandonou aquele jardim.  Toda tarde, depois da aula, a criançada voltava para brincar junto com o gigante.  Só uma coisa o entristecia.  O menininho, aquele que lhe tinha dado o primeiro abraço de sua vida, nunca mais voltara.
__Que saudade tenho dele! - suspirava o gigante.
O tempo continuou passando e foi colocando no gigante uma enorme barba, branquinha como algodão.  Foi deixando-o com dor nas costas, velhinho, velhinho.
Uma tarde, enquanto passeava e brincava com seus amiguinhos, o gigante reencontrou o menininho e foi correndo abraçá-lo!
__Quem te fez isso nas mãos? - disse o gigante, notando que as mãos do menininho estavam muito machucadas. - Conte quem foi que eu dou uma lição nesse malvado!
__Seu gigante - disse o menininho com calma - Quem fez isso já não importa!  O importante agora é que vim te fazer um convite!  Como você deixou de ser egoísta, quero dividir o meu jardim contigo!  Queres ir comigo brincar no MEU jardim?
__Oba!  É claro que quero!  Vamos, vamos!
O menininho e o gigante partiram.
No dia seguinte, a criançada do jardim descobriram que aquele menino tinha um nome muito especial... chamava-se JESUS!

E mais uma vez todo mundo ganhou livros da Editora Cortez.

O gigante egoísta
Oscar Wilde
Liana Leão
tradução e adaptação
Márcia Széliga
ilustrações

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