23 de junho de 2012

A curiosidade premiada

Que menina curiosa era Glorinha!
Tudo queria saber!
__Por que você está de camiseta azul? - perguntava ao moço que que passava na rua.
__Por que você tem o cabelo cacheado? - perguntava à prima mais velha.
__Por que você é careca? - perguntava ao vovô.
Em casa, quando estavam fazendo a janta, Glorinha perguntava:
__Como é que se faz feijão?
__Glorinha, vai brincar, vai!  Estou ocupado agora...
Era o telefone tocar para a menina sair pulando e cutucando quem falava:
__Com quem você está conversando, hein? Com quem? Com quem? - pedia Glorinha.
__Pare de amolar, menina!
Na escola, era a mesma coisa.  O professor dizia:
__Podem guardar os cadernos!
E Glorinha pedia:
__POR QUÊ?
A mãe e o pai de Glorinha já não suportavam tantas perguntas.
__Querido! - disse a mãe de Glorinha numa noite - Estou exausta!
__E eu, então, querida! - suspirou o pai de Glorinha nessa mesma noite - Hoje Glorinha me fez passar uma vergonha enorme no mercado.  Tudo ela quer saber.  Tudo ela pergunta...
__Será que nossa filha tem algum problema?! - assustou-se a mãe.
__Quem poderia nos ajudar? - perguntou o pai.
__Já sei!  A Dona Domingas!!!
Dona Domingas era a velhinha mais simpática da rua.  Simpática e muito, muito sábia. Quando chegaram lá, Dona Domingas ouviu o problema e sorriu carinhosamente, dizendo:
__Ora, meus amigos, o que Glorinha tem é CURIOSIDADE ACUMULADA...
__E isso é grave, Dona Domingas? - perguntaram os pais.
__Pode se tornar grave se vocês não responderem as perguntas que ela faz.
__E o que pode acontecer?? - perguntaram de novo os pais mais assustados ainda.
__Glorinha pode começar a inchar, inchar, inchar até explodir.
__Nossa!!! - exclamaram os pais.
E, daquele dia em diante, eles passaram a responder a todas as perguntas da menina... que foram muitas.  Como as perguntas continuavam a aumentar e os pais de Glorinha continuavam cansados.
__É assim mesmo! - explicou Dona Domingas. - Glorinha precisa gastar toda a curiosidade que acumulou.  Depois, ela vai passar a perguntar menos e com mais calma.
E foi assim mesmo.  Glorinha foi perguntando menos... mas, em compensação, suas perguntas foram ficando mais difíceis.
__Por que o vento venta?
__Por que o arco-íris é colorido?
__Como é que foi que eu nasci?
Desesperados, foram consultar, novamente, Dona Domingas.  Ela abriu aquele seu sorriso carinhoso e explicou com calma:
__Ora, se Glorinha faz perguntas que vocês não sabem responder, comecem a perguntar junto com ela!
__Nós?! - espantou-se a mãe.
__Mas já somos adultos!  Gente grande não sai perguntando as coisas. - concluiu o pai.
__Quem foi que disse que gente grande não pergunta? - ralhou Dona Domingas - Eu sou gente grande há muito tempo e continuo fazendo perguntas até hoje. Vão e perguntem junto com a Glorinha!
E foi exatamente isso que eles fizeram.  Uma manhã, durante o café, ela cismou de saber:
__Onde terminam as estrelas?
Os pais não sabiam, então levaram a menina até a universidade onde havia um astrônomo que estudava as estrelas.  O homem entregou a Glorinha um telescópio!
__Tele o quê?
__Te-les-có-pio, Glorinha!  Com ele conseguimos olhar as estrelas que estão muito distantes da Terra.  E, sabe, a gente acredita que além dessas estrelas existem outras e outras e mais outras.
__Puxa! Que interessante! - murmurou Glorinha.


Um dia, durante o almoço, a menina cismou de saber:
__Como nascem as árvores?
Os pais não sabiam, então, num domingo, encontraram o jardineiro cuidando da praça da cidade.  Ele, gentilmente, respondeu:
__Ora, Glorinha, as árvores nascem das sementes! - e entregou à menina uma sementinha. - A semente vai pra debaixo da terra, começa a inchar, um broto escapa lá de dentro e vai crescendo, crescendo, criando folhinhas e galhos até que se transforma numa árvore!
__Puxa! Que incrível! - murmurou Glorinha.
Uma tarde, durante o lanche, a menina cismou de saber:
__Para que serve aquela mangueira que o elefante tem na frente do rosto?
Os pais não sabiam, então levaram a filha até o zoológico.  O tratador dos bichos, muito paciente, explicou:
__Esta mangueira na frente do rosto do elefante se chama TROM-BA, Glorinha.  Ela é o nariz do elefante, serve para ele respirar, coçar a cabeça e tomar banho.
__Puxa! Que demais! - gritou Glorinha.
Os pais, contentes, voltaram à casa de Dona Domingas.
__Estamos tão orgulhosos de Glorinha, Dona Domingas!  Ela aprendeu tantas coisas em casa e lá fora que queríamos dar um prêmio a ela.
__Meus filhos, a Glorinha já recebeu o prêmio!
__Já?! - pediram os pais, espantadíssimos!
__Sim, perguntem a ela...
E os pais perguntaram.
__Qual foi o prêmio que você ganhou, Glorinha?
__Papai, mamãe! Eu ganhei o maior prêmio que uma criança pode querer... O prêmio é VIVER NUM MUNDO INTERESSANTE!
__Só?
__E vocês acham pouco!?
Os pais não achavam, tinham perguntado por perguntar, porque toda a família tinha aprendido como é importante ter curiosidade e fazer um montão de perguntas.
E Dona Domingas continuou a receber pais preocupados.
__Para falta de curiosidade de filho, o que eu faço, Dona Domingas?
__Ora, meu filho - dizia Dona Domingas para o pai. - É só plantar bananeira!  A curiosidade descerá até a cabeça porque, com certeza, ela mora no dedão do pé!


Autor: Fernanda Lopes de Almeida
Ilustrações: Alcy Linares
Editora: Saraiva

Um comentário:

Penélope disse...

Todas as Glorinhas são geniais.
Temos uma aqui!!!
Gosto demais de histórias.
Abraços